segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Bartolomeu


Era um cara que foi criado almoçando todo domingo na casa dos avós com a família toda reunida, em que os assuntos eram os mais amenos e superficiais possíveis. Assistiam Faustão, viam corrida de Fórmula 1, mas ele tinha mais intimidade com o vendedor de balas da porta do seu colégio do que com qualquer pessoa da sua família. Os pais brigavam escondido, não se beijavam na frente d eles, ele não sabia o que era um relacionamento entre um homem e uma mulher que se amam e as vezes brigam, pois não existia nenhuma demonstração nem de amor, nem de raiva na sua frente. Ele cresceu estudando e começou a conhecer meninas que se interessavam por ele, pois apesar de não ter tantas histórias para contar, nem ser um cara extrovertido pra puxar assunto ou ser engraçado, ele tinha uma beleza e um charme de uma pessoa ingênua e um olhar de quem tinha sede de descobrir o mundo e por isso, chamava a atenção das mulheres mesmo quando estava calado. Teve casos, quase se apaixonava às vezes, mas por não saber lidar com sentimentos, emoções de verdade e problemas, ele sempre se afastava se começasse a sentir algo ou se qualquer probleminha aparecesse, pois não sabia como lidar, não conhecia os próprios sentimentos. Passou a adolescência focado no que os pais exigiam, nos estudos e na luta para ser “alguém” como descreviam. Até que um dia cansado, sozinho, tendo alcançado todos os objetivos traçados, ele se rendeu aos carinhos de uma mulher que nem mexia tanto com sentimentos, mas que chamou a atenção porque lhe dava o que ele nunca teve. Ela cuidava dele porque ela também precisava de alguém para cuidar e corria atrás, como a maioria das mulheres de um “relacionamento estável”. Eles casaram, tiveram filhos, e ele continuou seguindo a vida como mandava a cartilha. Se formou, já era um profissional bem sucedido, estava casado e com 2 filhos.

Um dia ele estava almoçando no intervalo do trabalho e viu uma mulher e resolveu pedir licença para sentar a mesa do restaurante self service lotado do Centro da cidade. A mulher puxou assunto, meio chata, falava muito, falava coisas que o deixavam sem graça, falava dos problemas, dos relacionamentos, da mãe doente, tudo para um estranho e ele tentava apenas ser educado. Ele pediu licença, pagou a conta e seguiu sua rotina, terminou o trabalho, fez relatórios, foi pra casa, jantou com a mulher e os filhos e dormiu. No dia seguinte ele foi almoçar no mesmo restaurante como sempre fazia, mas desta vez, procurava a mulher discretamente, mas não achou, depois foi pagar contas no banco e viu a tal mulher doida, que falava a vida pra qualquer estranho na porta do banco aos beijos insandecidos com um homem no meio da rua. Ele olhou assustado e seguiu. Ela provavelmente trabalhava ou morava por perto. Ele passou a reparar nesta mulher e passou a sempre encontrá-la por acaso sem falar, pois apesar dele ter conhecido parte da vida dela em 15 minutos de almoço, eles não se conheciam. Ela sempre estava agitava, as vezes parecia muito feliz, as vezes parecia muito triste, mas sempre demonstrava muita emoção e isso chamava atenção dele. Passou 3 anos observando apenas, até que numa festa da empresa, coisa formal com amigos de trabalho que ele participava para fazer a social com os outros funcionários, ele viu a mulher que estava no mesmo ambiente, tomando drinks, rindo, dançando, se divertindo, mas desta vez, sozinha. Ele chegou a oferecer mais um drink a ela, mas ela respondeu – “não, obrigada” sem ao menos olhar. Ele ficou feliz mesmo assim só de tê-la por perto desta vez. Num ambiente inusitado, mas desta vez, mais próximo. Ele tinha muita curiosidade em saber como deveria ser a vida desta mulher e queria observar.

O mundo é bom Bartolomeu! Só você que ainda não se libertou e não conseguiu sair das suas prisões pra tentar uma vida de verdade, cheia de riscos, de descobertas, de impulsos, de verdades e mentiras, corre atrás. Os nossos objetivos movem a nossa vida e enquanto a gente busca e se interessa por algo é que a gente vive. Isso é a vida.

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