
Espremer as mãos num desespero impotente
Enquanto durante o primeiro ano que passei na prisão, nada mais fiz, e lembro-me de não ter feito mais nada senão espremer as mãos num desespero impotente e dizer “Que fim! que horrível fim!”, agora procuro dizer a mim próprio, e às vezes, quando não estou a torturar-me, consigo realmente dizer-mo com sinceridade: “Que começo! que maravilhoso começo!”
(Oscar Wilde, in De Profundis)
Pois é, hoje me vi assim, no fundo de um poço, sendo esmagada, e pensei no fim, e logo depois repensei, mais uma vez o fim? Cheguei a conclusão de que não existe fim enquanto ainda houverem idéias.
Pois bem, estou obviamente numa situação desesperadora, em que o ser humano se vê diante dos seus instintos reais, não consegue disfarçar, nem conviver em sociedade, vira bicho, reage, grita quando sente dor, chora quando está triste, ri de desespero, ama profundamente, no frio, congela e no calor, se queima. O que é isso? É dor, tudo dói. Não há meio termo, o corpo está exposto às sensações extremas. As agulhas estão apontadas em volta de todo o meu corpo, se eu fizer qualquer movimento mal calculado, elas podem entrar por todos os lados. Merda! Acho que algumas já entraram...
Quando eu sair dessa eu quero pensar o mesmo que já pensei quando sai de outras. O mesmo que Oscar Wilde quando já estava fora da prisão, quero pensar que será apenas um novo começo. Porque desta vez achei que tivesse chegado ao fim, achei que a velhice que todos temem já estava me afrontando, que a injustiça prevaleceria e que eu não teria recompensa nenhuma, achei até que as forças dentro de mim já estavam esgotadas. Apenas achei. Ainda bem que às vezes eu acho muitas coisas erradas, como dizem por aí, são apenas “achismos” meus.
No desespero, eu digo, eu sei, não copiei isso de ninguém, eu vivi isso, eu sobrevivi à isso por muitas vezes. No desespero a gente cresce! A gente não tem idéias porque quer, a gente tem quando precisa. Eu estou precisando, eu estou, mais uma vez, reagindo à vida. Eu já não sou mais tão forte quanto das outras vezes, porque antes eu queria provar que venceria. Agora eu sei que venço, mas sei que canso também, e avalio se “vencer” é o mesmo “vencer” que me ensinaram.
Por fim, eu nem queria vencer, já venci, já perdi, já fui lá no alto e voltei aqui pra baixo, agora eu só peço pra me deixarem viver, porque hoje eu gosto de acordar desejando um doce, e meu prazer é saboreá-lo após o almoço, e isso pra mim é a vida. Imagine jogar uma folha no chão, igual criança, pra ver como o vento faz ela balançar até cair, se conhecer de forma simples é isso, testar os meus limites e não os do mundo. Quero descobrir e viver coisas simples, só isso. Não desejo mais do que já existe pra mim. Me deixem viver assim.