quarta-feira, 30 de junho de 2010

DESAFIOS pra que?


Espremer as mãos num desespero impotente
Enquanto durante o primeiro ano que passei na prisão, nada mais fiz, e lembro-me de não ter feito mais nada senão espremer as mãos num desespero impotente e dizer “Que fim! que horrível fim!”, agora procuro dizer a mim próprio, e às vezes, quando não estou a torturar-me, consigo realmente dizer-mo com sinceridade: “Que começo! que maravilhoso começo!”
(Oscar Wilde, in De Profundis)


Pois é, hoje me vi assim, no fundo de um poço, sendo esmagada, e pensei no fim, e logo depois repensei, mais uma vez o fim? Cheguei a conclusão de que não existe fim enquanto ainda houverem idéias.

Pois bem, estou obviamente numa situação desesperadora, em que o ser humano se vê diante dos seus instintos reais, não consegue disfarçar, nem conviver em sociedade, vira bicho, reage, grita quando sente dor, chora quando está triste, ri de desespero, ama profundamente, no frio, congela e no calor, se queima. O que é isso? É dor, tudo dói. Não há meio termo, o corpo está exposto às sensações extremas. As agulhas estão apontadas em volta de todo o meu corpo, se eu fizer qualquer movimento mal calculado, elas podem entrar por todos os lados. Merda! Acho que algumas já entraram...
Quando eu sair dessa eu quero pensar o mesmo que já pensei quando sai de outras. O mesmo que Oscar Wilde quando já estava fora da prisão, quero pensar que será apenas um novo começo. Porque desta vez achei que tivesse chegado ao fim, achei que a velhice que todos temem já estava me afrontando, que a injustiça prevaleceria e que eu não teria recompensa nenhuma, achei até que as forças dentro de mim já estavam esgotadas. Apenas achei. Ainda bem que às vezes eu acho muitas coisas erradas, como dizem por aí, são apenas “achismos” meus.

No desespero, eu digo, eu sei, não copiei isso de ninguém, eu vivi isso, eu sobrevivi à isso por muitas vezes. No desespero a gente cresce! A gente não tem idéias porque quer, a gente tem quando precisa. Eu estou precisando, eu estou, mais uma vez, reagindo à vida. Eu já não sou mais tão forte quanto das outras vezes, porque antes eu queria provar que venceria. Agora eu sei que venço, mas sei que canso também, e avalio se “vencer” é o mesmo “vencer” que me ensinaram.

Por fim, eu nem queria vencer, já venci, já perdi, já fui lá no alto e voltei aqui pra baixo, agora eu só peço pra me deixarem viver, porque hoje eu gosto de acordar desejando um doce, e meu prazer é saboreá-lo após o almoço, e isso pra mim é a vida. Imagine jogar uma folha no chão, igual criança, pra ver como o vento faz ela balançar até cair, se conhecer de forma simples é isso, testar os meus limites e não os do mundo. Quero descobrir e viver coisas simples, só isso. Não desejo mais do que já existe pra mim. Me deixem viver assim.

3 comentários:

  1. Clap, clap, clap. Aplausos!!!

    Não pelo texto, nem pelas palavras. Nem por Wilde, nem pela superação diária que os tolos precisam demonstrar aos terceiros...

    Os aplausos são pela atitude de uma possível - e eu tenho certeza - reviravolta. Pelas eventuais recuperações de força, pelas estratégias adotadas, pelo reinício - mais um, né? - recomeço, pelo mais novo e já conhecido respiro.

    Tem pessoas que chegam aos 40, com a sabedoria de 100. Outros chegam aos 50, com a experiência de vida de 20 - quem sabe eu? Isso não quer dizer muita coisa, é claro, mas pode ser que seja uma forma de agradecimento por em tão pouco tempo, ter adquirido uma minúscula, que seja, percepção de mudanças maduras em minha simplificada vida. E isso é apenas o re-começo.

    Sendo assim, meus aplausos são por tudo isso, mas, principalmente, pra que saiba que por mais que vc tivese em algum momento pensado em espremer novamente as mãos em um claro sinal de desespero, o inconsequente aqui jamais deixaria que isso acontecesse, ou, no pior das coisas, daria as mãos pra você, num nítido sinal de que suas mãos não se esfregariam mais...pelo menos não enquanto eu tivesse por perto.

    O resto a gente já sabe, num é???

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  2. sim, o resto nao importa mto. nao pra gente... te amo. obrigada pelas palavras e pelo apoio de sempre.

    bjs!

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  3. O que posso dizer, ou melhor, escrever? Tenho passado por cada uma, que nunca pensei passar na vida. É coisa que não suporto é injustiça. E, infelizmente, tem acontecido uma pior que a outra. Estou aprendendo a ter paciência - o que é difícil. Mas para quase tudo tem solução. E justiça será feita.

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